quarta-feira, 6 de julho de 2011

Diário Hangar - Junho 2011


De volta ao sul...

Como prometido, não ficaremos muito tempo sem escrever nosso diário. Então vamos por a memória no "modo ativo" e lembrar nossas viagens no mês de junho de 2011.

Depois de alguns dias em casa, voltei a São Paulo no início do mês de junho para alguns compromissos com a banda e pessoais. Nosso próximo workshow seria no Rio Grande do Sul, na cidade de Panambi, a cerca de 350 quilômetros de Porto Alegre. Como sempre, esperamos o Infallibus que vem de Mococa com o Fábio e nosso novo motorista, Sebastião Telles. O Telles já havia viajado conosco para o Rio de Janeiro e está começando a se acostumar com a turma. Como ele é o mais novo na equipe, lógico que ele não iria passar batido pelas brincadeiras com o seu nome: Tevez, Celso, Térbio, Telecelso, Treves, Trelles, Tião foram algumas das alcunhas que ele recebeu e recebe até hoje nas viagens. A gente ainda não sabe direito se ele leva na brincadeira ou não porque simplesmente não conseguimos entender o que ele fala. O Telles não fala, resmunga... De vez em quando ele chama meu nome e ouço atentamente, mas geralmente preciso ouvir umas duas vezes. Ele é gente boa, bonachão e ainda tem um pescoço tão grande que o Aquiles diz que ele não consegue enxergar muito para os lados... heheheh. A visão periférica dele é prejudicada. Claro, tudo não passa de brincadeira com nosso motora, que tem a responsabilidade de nos levar nessas viagens longas pelo Brasil.

Panambi

Saímos de São Paulo na sexta-feira, dia 03, em direção ao sul. Seriam 1000 quilômetros até Panambi, em uma viagem longa, cansativa e perigosa. Rumo ao centro-norte do Rio Grande do Sul, a viagem seguiu pelo meio da região sul, ao contrário do caminho costumeiro pelo litoral, via Florianópolis e Porto Alegre. Para falar deste workshow vou voltar no tempo... Quatro meses atrás recebi um e-mail do Aquiles sobre uma escola na cidade que pretendia fazer um evento no mês de junho. Entrei em contato com a pessoa e começamos a negociar. O nome dele: Lorival ou "Loriva Batera", sugestivo? No decorrer das conversas o Lorival explicou-me que na cidade havia uma escola chamada "Escola de Talentos de Panambi". A escola era provida pelo Rotary Club e pela Secretaria Municipal de Cultura. Enquanto o Rotary comprava os instrumentos, a Prefeitura pagava os professores e os locais de sala de aula. De volta à viagem, logo na saída começamos a assistir o primeiro episódio da série Prison Break... O Aquiles levou a caixa completa de DVDs... Foi Prison Break a viagem inteira... O pessoal não aguentava mais as aventuras de Michael Scofield tentando salvar seu irmão Lincoln da cadeia de Fox River. Durante o dia e noite de viagem, nomes como a da Dra. Sara, Fernando Sucre, T Bag, Abruzzi, Veronica, o malvado Bellic e o temido Fibonnacci ficaram próximos da gente... Uma overdose de capítulos de Prison Break, melhor assim do que nada pra fazer.

Chegamos às 22h em Panambi com um frio de 5 graus. Inverno gaúcho de rasgar a pele. Frio mesmo! Fomos para o hotel e nos acomodamos para o dia seguinte. No meu quarto o ar quente não estava funcionando e como o hotel estava lotado, não pude ser acomodado em outro quarto. O workshow aconteceu em uma escola, o Colégio Evangélico de Panambi. O pessoal da equipe seguiu cedo para o Colégio, pois o evento seria às 16hs. Às 11 da manhã saímos em direção ao centro da cidade na companhia do Loriva, sua esposa Josie e o guitarrista Duda Beck, os três professores da escola. Chegamos à Escola de Talentos, onde uma pequena banda formada por meninos na faixa de 14 anos de idade nos esperava. Eram alunos dos professores Loriva e Duda, e prepararam uma pequena apresentação para nós. No formato bateria, baixo, teclado e duas guitarras, tocaram vários clássicos do rock como Highway to Hell, Jump e Born to be Wild. Ficamos todos emocionados com a homenagem. Um dos meninos, o baterista, era deficiente visual, o que fez a gente ficar mais ainda sensibilizado pelo momento. Uma cidade com 40 mil habitantes tem uma escola que ensina música para 520 crianças gratuitamente. Pensando nisso, concluímos de que alguma coisa realmente está errada neste país...

No final de manhã, chegamos ao local do workshow, um salão grande com um palco em três níveis. Muito bom, mas um frio tremendo. Passamos o som e logo fomos para o almoço, que foi servido no colégio mesmo, em um salão bem rústico e aconchegante, equipado com churrasqueiras e mesas pesadas. A esta altura nosso amigo Mauriel Ourique já estava na cidade e saímos para conversar e prosear em busca de pilhas para os microfones. Depois do almoço alguns voltaram para o hotel, mas eu acabei ficando direto até a hora do evento.

O workshow começou pontualmente às 16 horas e mesmo com frio de 5 graus o ginásio estava lotado. Além do pessoal da cidade tivemos muitas pessoas de cidades vizinhas como Cruz Alta e Ijuí. A Débora Reoly esteve presente para cobrir o evento e realizar uma entrevista para o Whiplash, que eu mesmo acabei fazendo depois do workshow e também nossos amigos Joana Frota (que prometeu um dia entrevistar a banda, sabe-se lá quando,rsrsrs) e o namorado Cilas e a Kitty Rigoli como sempre nos prestigiando.. Mesmo com sol o frio era intenso, acho que a tarde fazia uns 10 graus, no máximo. Divertimos-nos bastante com as perguntas dos presentes, a maioria músicos de todas as idades. Encontramos o Charlei Haas, nosso velho conhecido de outros shows passados na região e, sendo um ótimo fotógrafo, acabou trabalhando a tarde toda na cobertura do evento. Depois da sessão de autógrafos costumeira já era quase hora da janta. No mesmo local, saboreamos um churrasco, enquanto a noite caía na cidade e a temperatura despencava para 3 ou 4 graus. Tivemos a recepção do pessoal da Secretaria de Cultura, do Rotary Club e também da Prefeitura de Panambi. Foi um jantar diferente. Acho que sentimos que estávamos fazendo um trabalho em prol da cidade, levando música para aquelas pessoas da Escola que nos viam como exemplo a seguir. Isso ficou claro no pequeno discurso da Secretária de Educação, a Sra. Elenir Winck, que falou exatamente sobre a importância de estarmos ali neste dia. Mais uma lição e nos sentimos muito bem com esta nova perspectiva que vai além de uma simples banda de heavy metal, mas engloba também toda a parte educacional e pedagógica que envolve um evento como o que fazemos. Muito bom. O Aquiles falou em nosso nome desejando a todos muita sorte e agradeceu a oportunidade de mostrarmos esse nosso lado, digamos, mais "pessoa" do que "bicho", como costumamos brincar. Inesquecível. Como a janta foi cedo, o Charlei Haas, nosso cicerone na cidade nos convidou para conhecer o único pub do local, o Mr John, onde haveria uma grande noite "sertaneja" com música ao vivo e tudo mais. Depois de uma rápida passagem pelo hotel para um banho, Aquiles, Fábio, Daniel, Guilherme, o Rodrigo e eu nos dirigimos ao pub, lá pelas 22 horas. O frio era coisa de enlouquecer. No pub, fomos levados ao camarote para curtir a noite sertaneja junto com o Charlei e conversando com a rapaziada que timidamente se aproximava. Depois de algum tempo o teor alcoólico subiu um pouco e naturalmente as brincadeiras inconsequentes apareceram. Na volta para o hotel tomamos um taxi, que em Panambi custa R$10,00 para qualquer lugar que você queira ir. Éramos sete pessoas dentro do carro e amontoados na parte traseira o Aquiles conseguiu me dar uma cotovelada que quase me levou a nocaute. Meu cérebro ficou solto dentro do crânio, rsrsrs... Sim, quase fui a nocaute técnico e ninguém notou. Naquela gritaria ninguém percebeu e eu demorei uns bons segundos para voltar da "viagem"... rs. As velhas brincadeiras estúpidas que a gente faz quando está "high".

Montenegro

Saímos de Panambi no domingo e seguimos para a minha casa, onde ficamos no domingo todo e aproveitamos pra curtir o frio de Gravataí com um vinho típico da terra... Na segunda-feira o Fábio fez novamente um workshop na Escola Tio Zequinha, enquanto o Aquiles e eu seguimos para uma janta com o pessoal da Harman, nossos amigos Fábio Floriani e Richard Powell. É sempre bom bater um papo com as pessoas que compraram a nossa idéia maluca de perambular no Brasil todo com um ônibus patrocinado por eles. Na terça-feira pela manhã rumamos para Montenegro, pequena cidade a cerca de 60 quilômetros de Gravataí. O dia amanheceu com chuva e assim ficou até a outra manhã. Frio de 10 graus e chuva fina em cima. Foi um dia cinzento mesmo. Descarregar o ônibus no Teatro com este clima foi maçante. O pessoal da Art Som, Ademir e Vítor, já estavam nos esperando. A última vez que estivemos ali foi em agosto de 2008, aliás, foi a minha primeira viagem com o Aquiles, exatamente em Montenegro. A chuva não cessou, o que reduziu um pouco o público. Ainda assim, foi uma noite quente de metal. A sessão de perguntas foi bem produtiva e nos divertimos muito. Encerramos a noite no bar Cordel, onde jantamos acompanhados pela voz e violão da cantora Simone Schuster, que mandou muito bem vários clássicos do rock. Um vinho ajudou na digestão nas risadas, e o Aquiles acabou pedindo uma música da "Adele", sendo prontamente atendido pela cantora. Ficamos de voltar para fazer um acústico no Cordel em setembro, pode ser que aconteça.

Osório

Voltamos para Gravataí na quarta-feira pela manhã, passando antes na Harman para mais uma reunião, desta vez com o pessoal da diretoria e do marketing. É muito bom ver que estamos alinhados com as ideias deles nesta nova fase. Pra quem não sabe, a Harman, empresa de capital estrangeiro, incorporou a Selenium, nossa antiga parceira. Quinta-feira foi dia do Aquiles dar aulas no Batera Store de Porto Alegre. No dia seguinte fomos a Novo Hamburgo fechar uma data de workshow para setembro e encontramos o Rodrigo da Urban Boards, nosso grande amigo. Sábado à noite, ainda com frio, fizemos um churrasco na minha casa, com todos os presentes menos o Fábio que foi até Criciúma gravar o disco do nosso amigo Thiago "Hommer" Daminelli. Domingo pela manhã seguimos cedo para Osório, pequena cidade no litoral gaúcho. Quem nos aguardava lá era o Newton Arboitem, da loja Roll Over. O Newton se encarregou de fechar com a Secretaria Municipal de Cultura o show do Hangar em um lugar muito legal chamado Largo dos Estudantes. É um lugar que antigamente era a céu aberto, mas agora conta com uma cobertura e climatização. Fomos muito bem recebidos por todos, em especial pelo Newton e pela sua esposa, Lara. O clima foi tão bom que nos divertimos bastante durante o show. Teve até um pequeno discurso da Secretária de Cultura no meio do show... Acho que estamos virando experts neste tipo de evento, onde as pessoas da cultura da cidade se identificam com a nossa mensagem, assim como os fãs da banda. Foi uma noite agradável. Depois do show fomos jantar e contar "histórias de rock" conforme alguém acabou se referindo. O Newton e esposa são figuras ímpares, merecedores do rótulo de sucesso. Parabéns a eles. Vamos voltar a Osório em setembro ou outubro para um workshop de bateria do Aquiles e algumas aulas. Por volta da meia noite me despedi dos companheiros que rumaram para São Paulo enquanto eu voltava para casa em Gravataí. Foi uma semana intensa com muitas surpresas.

Este é um resumo de nossas aventuras de junho de 2011. Em breve vamos falar de julho, da nossa visita a Goiânia, onde tatuamos nossos corpos e fizemos o “Pain Day” do Hangar. Reportarei os shows em Goiânia, São José dos Campos, Paraguaçu Paulista e no SESC Pompeia. Tudo com os devidos detalhes, como sempre. Espero que vocês gostem e continuem seguindo nossas aventuras.

Texto : Mello

Revisão : Laguna