Não é nenhuma novidade que nós gaúchos somos bastante peculiares quanto a nossa identidade. Falar sobre isso renderia um bom texto , mas não para hoje. Comecei este tópico por que revirando os discos antigos que trouxe da casa do meu pai encontrei um antigo LP da dupla gaúcha Kleiton e Kledir. O disco que é de 1981/82, se não me engano, foi sucesso nacional e alavancou a carreira deles por muito tempo. A música que mais tocou chama-se "Deu Pra Ti" que fala exatamente a linguagem padrão destas terras. Jargões comuns aos gaudérios foram levados a várias querências e estâncias de outros estados e tomaram rumo natural de inserir-se na linguagem coloquial ou trivial até hoje. O "Bah" que é uma interjeição que indica espanto, admiração, surpresa ou assombro , já era bem conhecido nacionalmente por todos, mas expressões e frases como "tri legal", "a tchurma do Bom Fim", "as gurias tão tri afim", aliadas a visões comuns do cotidiano e de personalidades de Porto Alegre como "Beladona e chimarrão, que saudade da Redenção, do Fogaça e do Falcão, cobertor de orelha pro frio e a galera no Beira Rio" foram levadas ao conhecimento de muitos. Foi um momento legal da dupla e um marco na música destes lados. O disco ainda tem músicas importantes até hoje como "Semeadura" , uma milonga escrita pelo irmão Vitor Ramil com o refrão que marcou época por aqui :
"Americana Pátria morena, quiero tener
Guitarra y canto libre, en tu amanecer
No Pampa meu pala a voar , esteira de vento e luar, vento e luar."
O disco se completava com "Estrela, Estrela" também do irmão Vítor e os sucessos de rádio "Trova", "Noite de São João" , "Navega Coração" e a grande obra do disco "Paixão". Já tentei encontrar outra música que explicasse tão bem este momento único da paixão , mas para competir com esta letra é muito complicado. "Paixão" fala exatamente deste momento mágico. Uma balada com arranjo bem feito e uma letra com palavras simples mas certeiras. Kledir conseguiu traduzir alguns sentimentos em uma visão bem abrangente sobre uma espécie de leitura masculina daquele momento, mas não de uma maneira radical ou machista. Pelo contrário com todo o respeito e beleza que merece a situação. A letra tanto pode servir para uma noite ou para a vida toda e ai esta a magia desta poesia. Talvez uma visão feminina fosse importante para atestar a minha opinião, mas enfim, acho que foi um momento mágico desta dupla.Fica a dica para quem não conhece estes gaudérios que fazem história por estes pagos e campos.
Tá mas o que isso tem a ver com metal???? Pegue uma garrafa de vinho coloque a música e convide a sua paixão para fazer o teste...nada mais rock`n`roll.....
Paixão ( Kledir Ramil )
Amo tua voz e tua cor
E o teu jeito de fazer amor
Revirando os olhos e o tapete
Suspirando em falsete
Coisas que nem sei contar
Ser feliz é tudo que se quer
Ah este maldito fecho eclair
De repente a gente rasga a roupa
E uma febre muita louca
Faz o corpo arrepiar
Depois do terceiro ou quarto copo
Tudo que vier eu topo
Tudo que vier vem bem
Quando bebo perco o juízo
Não me responsabilizo
Nem por mim nem por ninguém
Não quero ficar na tua vida
Como uma paixão mal resolvida
Dessas que a gente tem ciúme
E se encharca de perfume
Faz que tenta se matar
Vou ficar até o fim do dia
Decorando a tua geografia
E essa aventura em carne e osso
Deixa marcas no pescoço
Faz a gente levitar
Tens um não sei que de paraíso
E o corpo mais preciso
Do que o mais lindo dos mortais
Tens uma beleza infinita
E a boca mais bonita
Que a minha já tocou
Meu pai me apresentou essa música quando eu tinha uns 14 ou 15 anos. Sem dúvida é uma das músicas mais lindas que existem por aí. Mas os anos se passaram e fui entendendo o que há por entre as linhas e sempre esta na minha playlist e uns dos primeiros vídeos favoritos do Orkut!
ResponderExcluirHummm... que "teste", hein?!! :D
ResponderExcluirÓtimo post!! Toco Death Metal há mais ou menos cinco anos, e sou fascinado por boa música sempre! Esse disco não sai do meu playlist nem com a bala!!
ResponderExcluirMuito bom mesmo!!
cara, que maravilha de post, eu tenho um amigo que, quando morava em minha cidade, tinha um quadro na parede com essa letra.
ResponderExcluirexcelente texto, pois curto boa música, desde o metal, o bom rock gaúcho setentista até a música missioneira (milongas e chamarritas) do velho Noel Guarany.
parabéns!