Onze anos são bastante tempo. Muita coisa aconteceu e o mundo hoje é completamente diferente. A música também. Porto Alegre do final dos anos noventa para o metal se resumia a algumas lojas , bandas que tentavam levar adiante os seus projetos e poucos lugares para tocar. Toda aquela efervescência do inicio da década tinha passado e fazer música naquele momento era um pouco complicado. Lembro que alguns festivais no Auditório Araújo Vianna e apresentações esporádicas no Garagem Hermética ou no Teatro de Elis. Gravar e produzir um CD e depois lança-lo era um trabalho para poucos. Não andávamos nas rodas de cerveja da Osvaldo Aranha e muito menos vestíamos de preto durante os sete dias da semana. Trabalhávamos em nossos empregos comuns e nos finais de semana ensaiávamos a exaustão e planejávamos nossos próximos passos. Assim sendo , o lançamento do nosso primeiro CD teria que ser muito bem feito e planejado. Um verdadeiro acontecimento. Foi assim que trabalhamos durante dois meses para que tudo desse certo. Mandamos imprimir cartazes no formato de A3 e começamos a cobrir a cidade com os mesmos. Saíamos a noite nos carros do Cristiano ou do Aquiles. As vezes no meu mesmo. Dentro carregávamos baldes de grude que só o Michael sabia fazer. Uma mistura de farinha com algum outro ingrediente, mas que ficava parecida com uma outra coisa bem masculina que acredito não preciso descrever. Na madrugada um ia passando grude com pincel e o outro colando e todo mundo sujando as mãos naquele líquido branco viscoso. Era uma diversão e uma "pegação de pé" por causa da sujeira. Íamos colando sem parar em vários pontos tradicionais da cidade e bairros onde havia música ao vivo. Na rua Venâncio Aires quase esquina com a João Pessoa colamos cerca de 150 metros de cartazes em duas ou três fileiras. O cartaz era azul e chamava muito a atenção.No outro dia o pessoal da Prefeitura nos localizou e mandou que tirássemos os cartazes ou iria nos multar ou cancelar o show. Lá foi o Michael arrancar todos os cartazes da parede. Fizemos um trabalho de divulgação bem legal em jornais locais. Uma parte engraçada foi quando fomos a Tv da Ulbra em Canoas na Grande Porto Alegre. Fomos , eu, o Cristiano e o Mike. O apresentador fez uma pergunta pro Cristiano sobre as letras das nossas músicas e o "Alemão" se perdeu dizendo "as letras são assim meio que sem sentido". Lógico que ele estava querendo dizer que as letras eram abstratas e não tratavam de um assunto específico.Até hoje onze anos depois nós ainda lembramos desta gafe e brincamos muito quando alguém pergunta sobre as letras da banda:"ahhh são assim meio que sem sentido...".
Ensaiamos muito as seis músicas de nosso CD e teríamos que completar o set com covers de bandas que tinham a ver conosco na época. Vendo agora eu acho graça. Dá pra entender tocar quatro músicas do Stratovarius???Tinha também Iron Maiden, Malmsteen, Helloween e Deep Purple. Pra complicar, como era de costume, tocávamos um meddley instrumental do Pantera que tinha uns oito pedaços de músicas conhecidas e um meddley do Dream Theater que se não me engano continha partes de umas três ou quatro músicas também. Na soma total o set era de difícil execução, rápido,veloz e técnico. Contratamos uma equipe de som da cidade de Igrejinha, que já viria com as camêras para gravar o vídeo do show. Aliás eram duas ou três não me lembro muito bem. O que não contávamos era com a pouca iluminação do local, que fez com que a gravação ficasse escura. Naquela noite toda a "metal city" se moveu a uma só direção, o Bar Fim na Avenida Osvaldo Aranha, bairro Bom Fim. Foram mais de 600 pessoas que lotaram o bar e viram ali a consolidação do Hangar na cena do metal gaúcho da época. Abrir o show do Angra sete meses atrás tinha sido um cartão de visitas , mas gravar, promover e lançar um cd era para poucos e foi um grande marco. Bom lembrar deste dia. Em breve mais "memórias".
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