A um mês atrás tive a oportunidade de passar dois dias no apartamento de um amigo em comum que tenho com o Humberto em São Paulo. Este rapaz trabalha como assessor do candidato tucano a presidente da república. Na intenção de estreitar a conversa sobre o momento atual da politica brasileira disse que não votaria no seu candidato e que as pesquisas naquela altura indicavam a sua derrota já no primeiro turno. Afirmei que a terceira derrota consecutiva do seu partido estava por vir e se ele gostaria de saber o porque da minha posição. Começamos a conversar e ele me disse com todo seu conhecimento de causa que o "povo brasileiro tem que aprender a votar". Que "a corrupção e a roubalheira" que estão presentes nos últimos governos "são uma vergonha" e "que nunca tantos escândalos estiveram em evidencia". Lembrei-me de uma vez que fui ao Cine Teatro de Gravataí assistir a um trio instrumental muito bom de uma banda gospel. Antes da apresentação o pastor discursou sobre o mundo dos "da igreja" e os "mundanos", ou seja todos que não seguiam a sua religião.Me senti um "excluído", um "não escolhido", afinal eu não "era" da sua religião. Engraçado que os caras só tocaram clássicos mundanos de "Jaco Pastorius, Miles Davis e Al Di Meola". Enfim estes conceitos maniqueístas de certo e errado, bem e mal, que para mim são difíceis de ser entendidos. Quem viveu as décadas de oitenta e noventa com lembranças da ditadura militar na memória, sabe que naquela época muitas coisas eram diferentes, mas o que mais importante era lutar contra a ditadura e a favor da liberdade de expressão, da abertura política. No início dos anos oitenta muitas vezes as primeiras pessoas e entidades políticas que se manifestavam eram chamadas de "xiitas" pelo seu "radicalismo" em uma alusão errada ao segundo maior grupo de crentes da religião islã. Achar que o povo não sabe votar é por demais "arrogante" e "prepotente". Nada mais precisou ser discutido.Para mim estava bem claro o porque da derrota do candidato do meu amigo. Corrupção, escândalos e injustiças estão presentes em todos os governos desde todas as eras. Cabe a quem vota escolher, confiar, cobrar e repor as peças que não funcionam neste jogo. Para ilustrar o quanto a política é estranha relembrei para o meu jovem amigo um fato que aconteceu em 1994 quando o então Deputado gaúcho Ibsen Pinheiro foi caçado devido a uma reportagem da revista Veja onde o seu repórter confundiu o valor de mil reais com um milhão de reais na sua bancária do político. Como a capa já estava pronta, a revista procurou outros deputados para confirmarem a história e não terem prejuízo no recolhimento da edição, publicou assim mesmo, causando a cassação. Anos depois a Veja declarou que "lamentava" o erro. Credo.
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